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Como lidar com o desafio diagnóstico da sífilis e da sífilis congênita?

O diagnóstico da doença exige conhecimento científico dos analistas clínicos e é favorecido pelo relacionamento próximo entre médicos e laboratórios; saiba mais a seguir

 

Segundo os  dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2022, o número de pessoas infectadas por sífilis apresentou crescimento, comparando-se com 2020, totalizando mais de oito milhões de pessoas mundialmente afetadas. A boa notícia é que o tratamento da doença pode ser bastante simples, especialmente em estágios iniciais, a partir do uso da Benzilpenicilina Benzatina.

Amadeo Sáez-Alquézar, farmacêutico e consultor científico da SBAC e da OMS, explica que o desafio diagnóstico da sífilis se deve às especificidades dos exames disponíveis para sua identificação e, consequentemente, do conhecimento demandado dos laboratórios para a realização e a correta interpretação dos dados.

Apesar de serem assertivos para identificar precocemente a doença, os testes treponêmicos não servem para acompanhar sua evolução ou mesmo seu tratamento. Nesse sentido, os não treponêmicos são mais adequados: “Os resultados são apresentados em títulos, que variam de acordo com o estágio da doença. Na detecção da fase inicial, o paciente apresenta um título alto e, ao ser submetido ao tratamento, esses títulos vão diminuindo”, diz o especialista.

Portanto, o uso combinado dos dois tipos de exame é bastante eficaz para o diagnóstico da doença e o acompanhamento do tratamento. Além disso, também pode identificar pacientes que já estiveram doentes: “Geralmente, um resultado treponêmico reagente e um não treponêmico negativo, ou muito baixo, significa que a pessoa teve sífilis, mas se curou”.

 

Quando devem ser aplicados os exames treponêmicos e não treponêmicos?

Treponêmicos: detectam a presença dos anticorpos produzidos especificamente contra Treponema pallidum (bactéria causadora da sífilis) e são muito mais sensíveis e específicos.

Exemplo: FTA-ABS (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption).

Não treponêmicos: são capazes de identificar a presença de reaginas no paciente, indicando a

existência de infecção, sem especificar qual seu agente causador. Exemplo: VDRL (Venereal

Disease Research Laboratory).

 

“Cada exame cobre uma informação, então, o ideal seria fazer os dois. Mas não há essa obrigatoriedade de fazer um treponêmico junto com o não treponêmico, eles normalmente são feitos a depender da fase do paciente”

Amadeo Sáez-Alquézar, farmacêutico e consultor científico da SBAC e da OMS

 

Para facilitar o entendimento da aplicação de cada um, o Ministério da Saúde disponibiliza em seu Manual Técnico para Diagnóstico de Sífilis as duas possibilidades de abordagem para o diagnóstico, destacando o momento de realização de cada tipo de exame, como podemos ver a seguir.

 

Fluxograma: abordagem clássica

 

 

Fluxograma: abordagem reversa

Fonte: Manual Técnico para Diagnóstico de Sífilis, Ministério da Saúde, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sifilis/publicacoes/manual-tecnico-para-o-diagnostico-da-sifilis.pdf

 

Segundo Amadeo Sáez-Alquézar, “o analista de laboratório precisa ter conhecimento dos aspectos fisiopatológicos das doenças, além de saber o fundamento do exemplo, para que serve e como interpretação os resultados, e não apenas executar o exame”.

 

O especialista destaca ainda a importância de se atentar para resultados falso positivos e falso negativos. O primeiro caso acontece em pacientes curados que apresentam resultados positivos decorrentes do efeito chamado de “cicatriz sorológica”, em que há detecção de infecção mesmo após a cura.

Já o resultado falso negativo se dá em pacientes portadores de sífilis que podem negativar no exame devido ao excesso de reaginas em seu organismo, o chamado “efeito prozona”. Nesse caso, a realização concomitante do exame com a diluição 1 : 8 evita o falso negativo e é indicado no Manual Técnico para Diagnóstico de Sífilis do Ministério da Saúde (2021).

O diagnóstico da sífilis é bastante desafiador e demanda conhecimento científico apurado dos profissionais dos laboratórios. A troca de informação entre analista clínico e médico é fundamental para facilitar o processo diagnóstico, como conclui Sáez-Alquézar: “O cenário ideal é que o laboratório de análises clínicas tenha um relacionamento próximo com o médico, o que é cada vez mais difícil nos dias de hoje, pelo alto número de exames. Os laboratórios menores tendem a manter essa interação, e médico e analista conseguem, juntos, fechar o diagnóstico de forma mais eficiente”.

A SBAC endossa a importância da conscientização a respeito da sífilis e sífilis congênita e reforça a importância da aplicação do conhecimento científico na bancada.