De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, 40% da população global tem algum tipo de alergia que impacta sua qualidade de vida. Até o final do século, é possível que esse número suba para metade da população. No Brasil, cerca de 30% da população enfrenta o problema desencadeado por reações respiratórias, a medicamentos e a alimentos.
Resposta imune inadequada do corpo a substâncias inofensivas como pólen e ácaros, as moléculas responsáveis por essa disfunção não são completamente conhecidas. No entanto, uma técnica de análise avançada permitiu que investigadores norte-americanos identificassem células imunes presentes apenas em alérgicos. A descoberta, publicada na revista Science Translational Medicine, pode ajudar a avaliar a eficácia dos tratamentos de alergia.
De acordo com os cientistas, as células imunes TH2, responsáveis por proteger o corpo de parasitas, bactérias ou vírus, podem desencadear alergias. Usando uma abordagem chamada coloração com tetrâmero MHCII, foi possível visualizar e perfilar células-T específicas de alérgenos diretamente no sangue do paciente. Assim, agora podem observar detalhes do sistema imunológico que nunca haviam sido vistos.
A equipe identificou seis células TH2 em 80 pessoas alérgicas, estruturas não encontradas nos 34 participantes do experimento que não tinham alergias. Observando a variação na expressão dessas células relacionadas às alergias mais comuns (como amendoim, pólen, mofo, pelo de gato e ácaros), encontraram um subconjunto de células TH2 presente em pessoas com alergias e quase totalmente ausente nas não alérgicas.
O grupo de células imunes, que recebeu o nome de TH2A (“A” para alergia), se diferencia de outras células imunes porque produz uma sinalização inflamatória, como a produção de citocinas incomuns e o uso de uma via distinta que está relacionada a reações ao alérgeno. Para reforçar essa constatação, os pesquisadores realizaram um ensaio clínico em que monitoraram pacientes submetidos a tratamentos experimentais para alergia a amendoim. Foi então identificada uma relação direta entre a dessensibilização ao alimento e a diminuição da frequência de células TH2A nos participantes.
De acordo com os autores, as células imunes relacionadas à alergia poderão ser usadas como biomarcadores clínicos, para avaliar a eficácia de tratamentos, melhorando seu diagnóstico, monitoramento e tratamento. A próxima etapa do estudo é entender por que alguns indivíduos possuem essas moléculas e como neutralizá-las.
Os marcadores podem vir a ajudar no acompanhamento de pacientes em imunoterapia, uma vez que será possível a mensuração objetiva de uma modificação da resposta imunológica com o tratamento. No futuro, é possível que venham a atuar diretamente em grupos de linfócitos, e não apenas em seus mediadores como é feito atualmente.