Filósofo palestrou no 2º dia do 46º CBAC, em Belo Horizonte, e abordou a importância da postura ética nas relações sociais, comerciais e profissionais
O filósofo Leandro Karnal foi um dos palestrantes do 46º Congresso Brasileiro de Análises Clínicas (46º CBAC), que está sendo realizado em Belo Horizonte. A convite do laboratório Lab Rede, ele falou sobre o que considera ser o tripé da sociedade contemporânea: ética, mudanças e oportunidades.
Para o filósofo, a ética precisa deixar de ser uma teoria distante, a qual julgamos valer somente para os outros, especialmente os que estão no exercício do poder. A ética, segundo ele, deve ser um exercício diário, individual, que produz resultados coletivos capazes de transformar a sociedade. “Julgamos o corrupto, mas não nos preocupamos com o corruptor. Nós podemos até fazer o impeachment de um político, mas não podemos fazer o impeachment de um eleitor. Será que somos um país honesto governado por ladrões? O despertar dessa consciência e a mudança de comportamento que ela induz é um processo pessoal e intransferível”, analisa.
De acordo com o teórico, as empresas já estão percebendo que ludibriar o consumidor é um atestado de falência. Hoje, a opinião pública está pronta para condenar ou absolver marcas baseado em suas condutas morais, e nem tanto na qualidade do produto ou serviço que oferece. “Um laboratório pode até conseguir enganar o cliente por algum tempo, mas não vai conseguir fazer isso por todo o tempo, nem com todas as pessoas. Uma hora, a verdade vem à tona e pode ser impossível reverter o estrago. Leva-se muito tempo para construir e pouquíssimo tempo para destruir”.
Ele convidou os congressistas a refletir sobre os produtos que de fato são vendidos no laboratório. Para muito além dos exames, os laboratórios vendem um atributo imaterial: confiança. “O serviço é o produto visível. Mas não é exatamente por eles que as pessoas pagam. Elas pagam pela confiança, pela certeza de que estão sendo bem cuidadas”.
Neste contexto, para o filósofo, ser honesto não é apenas uma questão moral, é também uma excelente oportunidade de negócio. Estabelecendo vínculos pautados na honestidade, ética e transparência com clientes, colaboradores e parceiros, o laboratório constrói os vínculos que garantirão a sua sustentabilidade ao longo prazo. “Como não poderia deixar de ser, o contrário também acontece. Quebre algum desses elos e veja a sua empresa fracassar em pouquíssimo tempo”, alertou.
O filósofo finalizou sua palestra afirmando que a ética não é para pessoas perfeitas, mas para pessoas perfectíveis. “O grande despertar de consciência acontece quando a pessoa percebe que pode ser melhor do que ontem, um dia de cada vez. Todos cometemos deslizes éticos diariamente, mas a grande lição está no aprendizado que esses erros deixam e a oportunidade de não os cometer novamente. Nem sempre é fácil, mas vale muito a pena”.