O documento, elaborado pela SBAC em colaboração com demais entidades do setor, foi lançado no CBAC 2024; iniciativa deverá criar ambiente mais seguro e próspero para laboratórios de análises clínicas
Por Maria Elizabeth Menezes *
Há poucos dias, retornamos do Congresso Brasileiro de Análises Clínicas, em Natal, esta que foi uma edição histórica do nosso evento e um marco para a comunidade do diagnóstico laboratorial de todo o País. Posso dizer que o que mais desejávamos se concretizou: firmar a necessária e merecida visibilidade aos laboratórios no contexto da atenção primária e da saúde da população. Nesse sentido, o 49º CBAC foi não apenas um grande palco para essa discussão, mas principalmente um passo efetivo na conquista de uma política pública que nos inclua – nós, laboratórios de análises clínicas, responsáveis por 70% da decisão clínica do paciente.
Podemos até nos acostumar com esse número, como acontece com todas as coisas quando viram rotina, mas não deveríamos. O avanço do conhecimento científico e das tecnologias aplicadas às análises clínicas alçou os laboratórios a uma posição de protagonismo na decisão e no manejo clínico. E é por isso que o lançamento de uma proposta de política pública que inclua o diagnóstico laboratorial na atenção primária do Sistema Único de Saúde vem em boa hora – para entender mais o momento, assista à websérie ”Ponto de virada”, uma produção exclusiva da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas.
Durante o congresso, a SBAC apresentou o documento “Diretrizes Gerais para Estruturação das Ações de Diagnóstico Laboratorial (Análises Clínicas e Toxicológicas) no Contexto de Atenção à Saúde”, feito em colaboração com o Conselho Federal de Farmácia (CFF), a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL) e associações de laboratórios de todas as regiões brasileiras, que são importantes atores e parceiros estratégicos nessa iniciativa. Como resultado desse esforço coletivo, lançamos a cartilha diante da presença e com o apoio de parlamentares que deverão, a partir de agora, nos ajudar a dar encaminhamento a essa proposta junto ao Ministério da Saúde e demais órgãos competentes.
Hoje, não existe na atenção primária do SUS um local específico para o diagnóstico laboratorial. Essa problematização foi levantada pela SBAC e não condiz com a realidade de que 95% dos exames diagnósticos do Sistema Único de Saúde são realizados por pequenos e médios laboratórios privados. Ou seja, são eles que garantem a capilaridade do sistema – e o fazem sem ter um programa estruturado. Sabemos que há uma desvalorização ou até mesmo uma falta de entendimento pela sociedade quanto à relevância do trabalho dos laboratórios. Mas essa realidade precisa mudar. E por que? Porque quem será beneficiado por isso é, em última instância, a população.
A comunidade laboratorial precisa sair de trás da bancada e assumir seu protagonismo para a promoção da saúde da população. Mais do que uma questão de reconhecimento, essa iniciativa busca uma regulação mais adequada ao setor, garantindo aos laboratórios um ambiente mais seguro para investimento em inovação tecnológica, profissionais altamente capacitados, educação científica continuada e melhor gestão. Para o SUS, a integração dos serviços laboratoriais ao cuidado do paciente significará, ainda, maior eficiência do sistema e, consequentemente, menor custo.
As oportunidades, portanto, florescem no horizonte das análises clínicas, e temos como grande aliada nessa jornada a tecnologia. O surgimento de plataformas melhores, acessíveis aos laboratórios de pequeno e médio portes, e que não existiam dez ou quinze anos atrás, hoje permitem que a alta tecnologia de diagnóstico laboratorial esteja disponível mesmo fora dos grandes centros urbanos. Vimos essa movimentação dentro do próprio CBAC, onde grandes players da indústria puderam demonstrar as soluções que oferecem ao mercado e que deverão incrementar a atuação dos laboratórios regionais. Porque nem tudo é terceirização.
Há alguns anos, a SBAC percebeu que as chamadas sociedades científicas, não só no Brasil, mas no mundo, também tinham o papel de dialogar com os pares. Foi quando decidiu que não deixaria, em hipótese alguma, de ser científica, mas que deveria começar a mostrar caminhos dentro dos preceitos de qualidade e honestidade no campo das análises clínicas. A SBAC, hoje, é mais do que uma sociedade científica, pois leva não só conhecimento ao setor, e sim a preocupação de que a população seja bem atendida. Isso é acreditar no poder dos laboratórios e dos analistas clínicos.
* Maria Elizabeth Menezes é presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, cumprindo, atualmente, o seu segundo mandato na entidade. É farmacêutica de formação, doutora em Ciências/Microbiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pioneira na aplicação das tecnologias de biologia molecular nas análises clínicas no Brasil.