Os quadros da Saúde no Brasil sempre foram desafiadores: poucos incentivos, carga tributária pesada, epidemias que não aguardam momento político ou econômico para acontecer. E assim nos vemos hoje, mais uma vez, diante de um panorama ainda incerto em relação ao governo, em um momento de transição delicado e ainda com a responsabilidade de encarar de frente e com muita competência os problemas causados pelos vírus da zika, dengue, chikungunya e H1N1.
O panorama, para os especialistas, não é dos mais animadores. De acordo com a pesquisadora Maria Auxiliadora Oliveira, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), o futuro da assistência farmacêutica, por exemplo, vê-se ameaçado frente aos preços exorbitantes praticados atualmente pelo mercado após décadas de avanços em relação às políticas de acesso aos medicamentos no país.
Para ela, há desafios emergentes, como uma tendência à diminuição da produção de farmoquímicos e o aumento da medicina genética e da biotecnologia, o que deve ser levado em conta na hora de planejar e executar novas políticas públicas de assistência farmacêutica.
Por outro lado, a proposta de um teto para as despesas com saúde e educação anunciada dia 24 de maio pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, preocupou especialistas em saúde pública e representantes da sociedade civil que reuniram-se no dia 25 de maio, em Curitiba, na Conferência Mundial de Promoção da Saúde. Para eles, este teto pode inviabilizar “completamente o atendimento à população”.
Para o Conselho Nacional de Saúde (CNS), a proposta do governo de redução ainda maior dos recursos da saúde que já estão próximos ao investimento mínimo previsto na Constituição, de 13,2% da renda corrente líquida, deve afetar principal e primeiramente o atendimento básico nos postos de saúde.
Para pesquisadores do Instituto do Coração de São Paulo, é preciso investir nas parcerias público-privadas como alternativa para viabilizar a geração interna de conhecimento aplicado e tentar reverter o quadro atual no qual 80% das tecnologias disponíveis no país são importadas. Guilherme Rabello e Francismar Vidal, gerentes das áreas Comercial e Inteligência de Mercado e Planejamento da Inova Incor, é preciso investir a longo prazo em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para que sejam incorporados ao SUS.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil dispõe de poucos laboratórios para pesquisas de ponta. A pesquisa “Sistemas Setoriais de Inovação e Infraestrutura de Pesquisa no Brasil” com 1.760 laboratórios de 143 instituições mostrou há menos de 20 laboratórios com valor estimado de conjunto de equipamento superior a R$ 15 milhões – a maioria tem valor estimado de até R$ 500 mil, com infraestrutura pequena, fragmentada e pulverizada.
O estudo afirma que essa situação demonstra a dificuldade do pesquisador brasileiro em competir com os grandes centros de pesquisa do exterior. A pesquisa afirma que a maioria dos laboratórios de pesquisa são pequenas salas dentro de universidades geralmente comandadas por um professor e um aluno, mas aponta algumas exceções, como “fora de curva”, como o de Integração e Testes do INPE e as unidades do Instituto Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) e do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
É, portanto, complicado traçar hoje, com algum grau de clareza, um panorama do que aguarda o setor da Saúde no país. Resta apenas aos profissionais das Análises Clínicas manter a união em defesa das principais reivindicações que garantam a sustentabilidade de pequenos e médios laboratórios frente a um futuro tão incerto, sem esmaecer na busca pela qualidade e rapidez nos diagnósticos – o que, talvez, possa significar um dos maiores diferenciais na saúde da população que cada vez menos parece poder contar com o SUS.
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