Depois que fortes chuvas atingiram diversas regiões do Estado do Rio Grande do Sul, o volume de água fluvial alcançou um máximo histórico, levando ao transbordamento dos rios, produzindo inundações e enchentes.
As inundações representam uma enorme ameaça à saúde pública e, inclui, entre outros, o risco do surgimento doenças veiculadas pela água contaminada.
Nessa condição de calamidade ambiental e emergência sanitária, a ocorrência de doenças pode ser observada tanto no período da enchente, onde os níveis de água estão bastante elevados, quanto no período subsequente, onde os níveis de água já estão mais baixos e próximos do normal.
Desse modo, alguns possíveis problemas de saúde associados a esses “Eventos Climáticos Extremos” podem ser considerados:
– As águas das cheias dos rios podem estar contaminadas com diversos poluentes, entre eles, esgotos, resíduos industriais e outros elementos nocivos à saúde. Essa contaminação aumenta o risco de ocorrerem, eventualmente, doenças sistêmicas como leptospirose, febre tifóide, hepatite A e gastroenterites.
– O contato direto de lesões de pele com águas contaminadas pode também causar problemas dermatológicos. Cortes e feridas expostas retiram a capacidade protetiva da barreira cutâneo-mucosa, tornando os indivíduos vulneráveis a infecções. Erupções cutâneas e infecções tegumentares de origem bacteriana, fúngica e parasitária podem surgir em decorrência de uma exposição prolongada de áreas lesionadas do organismo com águas insalubres.
– As inundações criam, normalmente, corpos de água estagnada, o que pode determinar um ambiente propício para o desenvolvimento de mosquitos vetores de doenças infecciosas. Doenças transmitidas por esses artrópodes como Dengue, Zika e Chikungunya podem se espalhar rapidamente durante e após as enchentes, à medida em que a população de mosquitos também prolifera. O número crescente de mosquitos transmissores aumenta, indubitavelmente, o risco de surtos.
– A água estagnada pode ainda liberar odores e gases tóxicos, levando a problemas respiratórios e ao agravando de condições pré-existentes como enfisema, asma e processos alérgicos.
– As baixas temperaturas da água podem induzir também à hipotermia e os níveis elevados de umidade podem contribuir, igualmente, para o surgimento de afecções do trato respiratório superior e inferior.
– As enchentes podem produzir um desabastecimento de alimentos e víveres, itens de higiene pessoal e medicamentos. Com relação aos alimentos, a agricultura e a pecuária podem sofrer um profundo impacto negativo, tendo em vista a eventual destruição de lavouras e culturas, silos e armazéns e a morte de animais de produção.
– Ataques de animais domésticos e selvagens como cães, cobras, escorpiões, aranhas e peixes com ferrões podem ocorrer. Em situações de enchentes, devem ser realizados regastes e capturas, bem como fornecimento de abrigo aos animais flagelados. Nesses períodos de calamidade, hospitais veterinários de campanha são importantes para o ofertamento de primeiros socorros.
O acompanhamento acerca de evacuações, fechamento de estradas e medidas de segurança informados pelos órgãos oficiais de mitigação de calamidades é fundamental para a otimização dos salvamentos.
Em períodos de enchentes, a observância às orientações dadas pelas autoridades locais e nacionais deve ser estrita.
De acordo com alguns estudos, a mobilização da população afetada e da sociedade civil é fator decisivo para a retomada da normalidade e recuperação do ambiente social e econômico.
SBAC SOLIDÁRIA
Paulo Murillo Neufeld, PhD