Um novo estudo conduzido por um consórcio de cientistas brasileiros parece ter descoberto o mecanismo pelo qual o vírus mata as células neurais. A pesquisa, intitulada “Proteômica quantitativa de linhagens neurais e organoides cerebrais derivados de células-tronco de pluripotência induzida de pacientes com esquizofrenia”, deve guiar os caminhos na busca por medicamentos que evitem ou minimizem os danos causados pelo vírus ao sistema nervoso central.
Os cientistas já sabiam que o vírus zika tem preferência pelas células progenitoras neurais dos bebês em formação, um tipo de célula-tronco capaz de transformar-se em células glia e em neurônios. Agora, no entanto, eles descobriram que a replicação viral causa uma instabilidade genômica que a impede de se proliferar ou iniciar o processo de diferenciação, o que faz com que ela entre em uma “morte programada”, um estágio chamado apoptose, interrompendo o ciclo celular.
Os pesquisadores chegaram a esse resultado através da cultura das células progenitoras neurais, in vitro, mas não nas placas concencionais. Elas foram colocadas em rotação, sob condições bem específicas, para que assumissem um estado tridimensional e formassem neuroesferas, marcando o início do processo de diferenciação ou neurogênese.
Dessa forma, de acordo com os pesquisadores, as células interagem com todas as que estão ao seu redor, e não apenas com as que estão imediatamente ao seu lado, como no modelo bidimensional – assemelhando-se mais ao cérebro de um embrião em estágio rudimentar de desenvolvimento. Assim, foi possível chegar à conclusão do mecanismo de morte da célula através das análises de proteômica (do conjunto de proteínas presentes na célula) e de transcriptômica (de genes expressos).
Parte das células foi infectada com o vírus zika antes da formação de neuroesferas. O vírus usado foi de uma linhagem brasileira isolada de um paciente pernambucano. Durante duas horas as amostras ficaram em contato com o vírus, que só então foi inativado para o início do processo de indução da formação de neuroesferas. Ainda que as células infectadas chegassem a se agregar em esferas, seis dias após começaram a se desmanchar e 12 dias depois haviam praticamente desaparecido. Um dos pontos que mais chamou a atenção dos estudiosos foi que o ciclo celular foi interrompido ainda muito no início, antes que a célula começasse a duplicar seu material genético, em um rápido processo de morte.